26/10/09

Plural dos Sentidos




Um dia, numa aula a nossa professora
Ensinou-nos que o Vento é simples massa de ar.

E eu acreditei.
Se a professora o diz...
Mas não compreendi.
E Pus-me a cogitar...

De volta para a aldeia, onde ninguém estudou,
Resolvi perguntar.

E disse o Zé Moleiro
- O vento é pó de trigo, São velas a rodar.
O Vento é um Amigo.

O Luís Pescador gritou, sem se conter:
- O Vento faz as ondas e fez meu Pai morrer!
O Vento é assassino, o Vento faz doer.

- Nem sempre. -lembrei eu.
Levanta os papagaios
E fá-los ser estrelas num céu azul de sol.

E gemeu a velhinha, num canto do portal:
- O Vento é dor nos ossos...

- É roupa no varal sequinha num instante!
Afirmou minha mãe
Correndo atarefada, entre casa e quintal.

Mas logo explicou um velho jardineiro:
- O Vento, meus amigos, destruiu-me as roseiras
E fez cair as flores das minhas trepadeiras.
O Vento é muito mau.

Um Poeta sorriu...
- O Vento é a beleza.
As searas são mar
Se o Vento as faz mover, no campo a ondular.

Então sentei-me à mesa e estudei a lição.

Já sei o que é o Vento:
É DOR, É MEDO, É PÃO.
É BELEZA E CANÇÃO.
É A MORTE NO MAR.
E POR TRÁS DISSO TUDO
É UMA MASSA DE AR...

E eu disse cá para mim que a minha professora
Com tudo o que estudou
não me soube ensinar,
Porque nunca escutou.

Sem comentários: