27/10/09

À Nossa Mesa



Há nossa mesa somos quatro.
- Quatro?
Mas só há três pratos!...
- Três?
Quatro, sempre.
- O teu é permanente.

2 comentários:

Anónimo disse...

Querido António, hoje é dia da saudade aqui no Brasil.
Como não pensar em ti?!

Trago-te algo que considero muito, muito belo:

"A saudade dói, e como dói, e parece que mais da metade da humanidade passa mais da metade da vida sentindo saudade, tenha este nome ou tenha outro, a verdade é que ela fica ali como um buraco no peito, um vazio, uma frente fria que não passa, uma muda cotovia, a saudade é uma contra-flor, diria o poeta Marco Lucchesi, a saudade é o não-perdão por aquilo que se foi, ou que nunca foi nem é e nem será, e vagamos à procura de um rosto, de uma infância, de um país, de um paraíso perdido, em estado de quase, o quase-ser no quase-dia, e a saudade nos deixa sensíveis, pálidos e felizes, reclamando a vida, ansiando o outro, invadidos pela inquietação dos anjos, e cheios de pedaços perdidos aos nossos pés ou dentro de nós graças a Deus, e somos escritos pelo vento, perto do fundo das coisas, tomados das memórias, das miragens e dos sonhos que, de outro modo, não poderíamos ver."

[Ana Miranda]

Abraço-te imensamente.

Tua filhota.

Anónimo disse...

Lendo o que me presenteaste, do Mia Couto, fiquei a pensar como é importante ouvir e dialogar com nossos silêncios.
E à mesa, sei que tantas vezes o fazes... à mesa é ainda mais precioso o momento.

Reproduzo estes trechos:

"Escuto mas não sei
Se o que oiço é silêncio
Ou deus."
[...]

Sophia de Mello Breyner

...

"[...] um talento para apurar silêncios.
Escrevo bem, silêncios, no plural.
Sim, porque não há um único silêncio.
E todo o silêncio é música em estado de gravidez."

...

Quando me viam, parado e recatado, no meu invisível recanto, eu não estava pasmado. Estava desempenhado, de alma e corpo ocupados: tecia os delicados fios com que se fabrica a quietude. Eu era um afinador de silêncios.
- Venha, meu filho, venha ajudar-me a ficar calado.
[...]
- Este é o silêncio mais bonito que escutei até hoje. Lhe agradeço, Mwanito.

(Mia Couto, in Jerusalém)

Um beijo, e muito, muito carinho.