Há nossa mesa somos quatro. - Quatro? Mas só há três pratos!... - Três? Quatro, sempre. - O teu é permanente.
2 comentários:
Anónimo
disse...
Querido António, hoje é dia da saudade aqui no Brasil. Como não pensar em ti?!
Trago-te algo que considero muito, muito belo:
"A saudade dói, e como dói, e parece que mais da metade da humanidade passa mais da metade da vida sentindo saudade, tenha este nome ou tenha outro, a verdade é que ela fica ali como um buraco no peito, um vazio, uma frente fria que não passa, uma muda cotovia, a saudade é uma contra-flor, diria o poeta Marco Lucchesi, a saudade é o não-perdão por aquilo que se foi, ou que nunca foi nem é e nem será, e vagamos à procura de um rosto, de uma infância, de um país, de um paraíso perdido, em estado de quase, o quase-ser no quase-dia, e a saudade nos deixa sensíveis, pálidos e felizes, reclamando a vida, ansiando o outro, invadidos pela inquietação dos anjos, e cheios de pedaços perdidos aos nossos pés ou dentro de nós graças a Deus, e somos escritos pelo vento, perto do fundo das coisas, tomados das memórias, das miragens e dos sonhos que, de outro modo, não poderíamos ver."
Lendo o que me presenteaste, do Mia Couto, fiquei a pensar como é importante ouvir e dialogar com nossos silêncios. E à mesa, sei que tantas vezes o fazes... à mesa é ainda mais precioso o momento.
Reproduzo estes trechos:
"Escuto mas não sei Se o que oiço é silêncio Ou deus." [...]
Sophia de Mello Breyner
...
"[...] um talento para apurar silêncios. Escrevo bem, silêncios, no plural. Sim, porque não há um único silêncio. E todo o silêncio é música em estado de gravidez."
...
Quando me viam, parado e recatado, no meu invisível recanto, eu não estava pasmado. Estava desempenhado, de alma e corpo ocupados: tecia os delicados fios com que se fabrica a quietude. Eu era um afinador de silêncios. - Venha, meu filho, venha ajudar-me a ficar calado. [...] - Este é o silêncio mais bonito que escutei até hoje. Lhe agradeço, Mwanito.
2 comentários:
Querido António, hoje é dia da saudade aqui no Brasil.
Como não pensar em ti?!
Trago-te algo que considero muito, muito belo:
"A saudade dói, e como dói, e parece que mais da metade da humanidade passa mais da metade da vida sentindo saudade, tenha este nome ou tenha outro, a verdade é que ela fica ali como um buraco no peito, um vazio, uma frente fria que não passa, uma muda cotovia, a saudade é uma contra-flor, diria o poeta Marco Lucchesi, a saudade é o não-perdão por aquilo que se foi, ou que nunca foi nem é e nem será, e vagamos à procura de um rosto, de uma infância, de um país, de um paraíso perdido, em estado de quase, o quase-ser no quase-dia, e a saudade nos deixa sensíveis, pálidos e felizes, reclamando a vida, ansiando o outro, invadidos pela inquietação dos anjos, e cheios de pedaços perdidos aos nossos pés ou dentro de nós graças a Deus, e somos escritos pelo vento, perto do fundo das coisas, tomados das memórias, das miragens e dos sonhos que, de outro modo, não poderíamos ver."
[Ana Miranda]
Abraço-te imensamente.
Tua filhota.
Lendo o que me presenteaste, do Mia Couto, fiquei a pensar como é importante ouvir e dialogar com nossos silêncios.
E à mesa, sei que tantas vezes o fazes... à mesa é ainda mais precioso o momento.
Reproduzo estes trechos:
"Escuto mas não sei
Se o que oiço é silêncio
Ou deus."
[...]
Sophia de Mello Breyner
...
"[...] um talento para apurar silêncios.
Escrevo bem, silêncios, no plural.
Sim, porque não há um único silêncio.
E todo o silêncio é música em estado de gravidez."
...
Quando me viam, parado e recatado, no meu invisível recanto, eu não estava pasmado. Estava desempenhado, de alma e corpo ocupados: tecia os delicados fios com que se fabrica a quietude. Eu era um afinador de silêncios.
- Venha, meu filho, venha ajudar-me a ficar calado.
[...]
- Este é o silêncio mais bonito que escutei até hoje. Lhe agradeço, Mwanito.
(Mia Couto, in Jerusalém)
Um beijo, e muito, muito carinho.
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